being chef

cozinhar

Mês: janeiro, 2013

casa

eu já estive morta e a vida na sarjeta não doía tanto qto estar viva, parece q o peito vai explodir de tanto sentimento.
o projeto de ser chef fica pesado não porque eu não possa ser, eu serei, já sou, ninguém sabe, o q pesa é encarar o mundo sem meus equivalentes.
londres é linda, a química das panelas é linda, mas lindo mesmo é conversar com alguém e se sentir tão intimamente ligado por mil vidas, se sentir confortável e bem – ver q a gente é só a gente e isso é suficiente para respirar.
e em um ano fora de casa parece q a única coisa q eu aprendi é q não sei viver sem meus amigos. a vida é terrivelmente solitária e o amor fica raro. o q é bem errado.

das coisas pequenas

não sei porque hoje eu lembrei de uma época q eu tinha vergonha de ser pobre. eu nunca fui pobre, num vou fazer drama aqui, mas teve uma época q meu pai perdeu tudo. tudo o q não era dele, diga-se, mas a gente ficou numa vida de merda por uns dois anos. minha mãe tinha 29 anos, se enfiou numa depressão fodida naquela época. lembro dela catatônica, olhando pra parede, por horas, em algumas tardes. nunca vi ela chorando. nunca. nunca vi minha própria mãe chorar. talvez eu seja igualzinho a ela, num choro na frente das pessoas a menos q o choro transborde de mim de tanto já não caber mais no peito. hoje ele estava deitado no meu ombro, estamos meio apaixonados mas os sinais são difusos então estamos apenas se alisando e se querendo sem querer, e eu falei dos meus amigos no brasil e nessa hora eu quase chorei. o peito borbulha entre uma imensidão de felicidade garantida e questões muito pequenas da vida q têm acabado com o meu humor. eu não chorei, mas quase. então eu lembrei dos meus 10, 11 anos, das menininhas com tênis de marca, do começo da puberdade e da minha vergonha por usar um tênis sem marca e almoçar arroz com ovo em casa, tb sofria pq meus colegas tinhas cadernos bons e eu pegava os cadernos vagabundos cedidos pelo governo (e minha mãe fazia capas pra eles, desenhava lindamente. o amor é uma coisa q cobre qqr coisa), tinha vergonha de usar roupas reformadas q eu ganhava da minha prima mais velha. então essa fase passou. nunca mais tinha pensado nisso. quer dizer, foram 20 anos até q essa memória brotasse em mim no metrô, qdo eu olhei um garotinho de uns 10 anos usando sapatos lindos, sapatos de adulto, q provavelmente me fariam ter vergonha no colégio. eu queria simplesmente falar para o garotinho q os sapatos dele são lindos e q ele sempre deve ter orgulho de tudo q ele ganhar dos pais deles. penso na minha mãe às vezes e em qtas vezes ela deixou de comprar um sapato pra si mesma pra comprar um par de sapatos baratos pra mim e pro meu irmão. pensei nos meus próprios filhos e como eu vou ensinar isso pra eles, essa parada de nunca ter vergonha de quem vc é, de onde vc veio ou de como vc se veste. pq, no final das contas, eu tenho muito orgulho de ser eu mesma. sofro qdo vejo, na minha cara, na minha sala, o menino q eu tô num puppy love se derretendo por um par de peitos. pq é uma sensação muito velha, muitas e muitas vezes eu fui trocada por alguém mais gatinha do q eu, muitas vezes chorei adolescentemente por isso. mas, no final das contas, é só um sofrimento pequeno q fica grande pelo momento. é o bem disfarçado de mal. é uma bobagem como ter vergonha de ser pobre. pq pobreza mesmo é não ter pra quem chorar. pobreza é não ter espírito. e de amigos e de espírito eu sou bem rica. sou trilhardária. e é por isso q eu vou dormir em paz hoje. não importa o tamanho da minha bunda ou da minha conta bancária. importa q eu sou feliz sendo eu mesma. e eu só tô escrevendo pq eu nunca posso me esquecer disso.