being chef

cozinhar

Mês: outubro, 2013

HOLLOW

a promessa é de um tornado. “vc ouviu falar do tornado?”, ele disse. “não, mas alguém me perguntou se eu estava com medo da tormenta e eu disse q não me importava, pois estava indo pra casa. achei q estavam falando da possibilidade de virem muitas pessoas para o jantar”, respondi. “hahahaha não, tem um tornado. ele vai passar aqui no sul. mas dizem q vai afetar mais o país de gales, aqui vai ser só ventania”.

queria um tornado e queria q ele passasse na porta da minha casa, q eu pudesse sentar no degrau da entrada e assisti-lo como um evento natural simplório. queria trovões, barulhentos e amedrontadores trovões, mas isso não tem aqui. não tem tempestade, não tem uma chuva daquelas q faz vc achar q a vida está renascendo. tem só chuvinhas, longas intermináveis chatas geladas intermitentes chuvinhas, q só servem pra molhar os óculos e fazer brotar poças q, impossível evitar, vão molhar seus pés.

essas chuvinhas dizem muito sobre londres, elas revelam toda a murchidão q é essa terra. não há tormentas assim como não há amores atormentados ou relações de tempestade entre os seres humanos, apenas essa coisa insossa, pentelha, gelada, sem profundidade q é uma garoa. faz muito tempo q espero uma tempestade q nunca veio. andei pensando q talvez a posição da ilha no Planeta não fosse favorável, talvez o reino unido esteja milimetricamente posicionado num pedaço em q o campo magnético terrestre atraia certas coisas q não me interessam, e apenas isso, e q aqui residam os seres humanos q convivem bem com esse magnetismo estúpido.

mas venta. venta muito, venta o tempo inteiro. é um vento q carrega tudo embora. carrega a vida consigo. carrega o tempo, as sensações. não leva embora a saudade, pq a saudade é um peso q dorme no fundo de um lago de memórias. não existe vento q mexa no fundo de um lago. existem tornados e tempestades e tsunamis q matam, só isso pode mexer no fundo do lago. mas o tornado, ele não vai passar aqui.

não existe atalho pra felicidade. existe o caminho e tentar atalhar te rouba os argumentos. vc entende qdo digo q vc perde os argumentos? vc não constrói a base pra felicidade. sem base, não há alicerce, sem alicerce nada sobe. tem q acumular um bom montante de infelicidades, tem q gastá-las todas, pra chegar no coeficiente agradável. i mean, se vc sabe q colocar a mão no fogo te queima, vc evita o fogo na sua pele. se vc conhece as infelicidades, vc passa a evitá-las. a felicidade nada mais é q a ausência de infelicidades.

a vida é feita de ciclos. em ondas. como a concentração. ninguém está concentrado 100% do tempo; ela oscila. em média, a cada 5 minutos, sua concentração cai, daí ela retoma, atinge um pico, vai caindo até precisar ser retomada e assim sucessivamente um trilhão de vezes sem nunca te cansar – pq vc nem presta atenção nisso. aposto q vc nunca presta atenção na sua concentração. eu presto pq a minha não tem 5 minutos de ciclo. tem uns 46 segundos, em muito pouco eu perco a concentração, perco o assunto, perco o interesse. é um instante, é muito rápido, e eu já estou num outro planeta, divagando. daí eu me resgato. se o ciclo da concentração é de cinco minutos, pq o ciclo de sofrimento e felicidade tem q ser em meses – ou anos? até q chegou o momento q meu ciclo de contentamento (q é uma parada próxima à felicidade), dura 6 minutos ou 6 horas. é tudo muito rápido.

criei um método para suportar os dias. eu acordo e decido o q vou ser. já fui um elefante rosa, bailarino q dança entre os problemas; já fui unicórnio mágico do amor, já fui dragão cuspidor de fogo q queima os problemas com um sopro; já acordei princesa do reino e todo sapo vira príncipe e toda coisa q eu toco vira ouro. agora eu acordo e decido o q eu vou ser. nos últimos dias canto em loop “she said i can be a frog, i can be a bat………it seems like she can be anything she wants to be”. é um argumento. os dias são horríveis, o mundo faz de tudo pra te deprimir. mas eu não posso compactuar. eu tenho q ser maior. então eu luto. luto pra ser extraordinária. luto pra não gerar descontentamento. luto pra ser um pingo de alegria na vida das pessoas.

tenho sido muitas coisas. hoje acordei apenas humana normal. não consegui decidir o q eu era no café da manhã, então concluí q era apenas humana, a kátia de sempre. queria ter abraçado pessoas e derramado nelas amor, queria ter convidado o chef tailandês delícia pra uma trepada, queria ter feito caretas pros outros chefs, mas acordei humana e vazia. acordei normal, sem nada pra oferecer. como a maioria deles. acordei honesta e séria. não falei com ninguém e não fiz piadas, foi apenas mais um dia. não fez diferença. mas eu poderia ter abraçado o chef de café da manhã e dito q a vida é bonita – pq ele estava num mau humor horrível, numa vibração pesada e densa q eu poderia cortar com uma faca (e precisava estar bem afiada). mas eu não tinha tinha energia. eu estava vazia, sem amor. como vc pode dar amor se vc não tem? trabalhar na sobremesa me ensinou isso: vc não cozinha sem açúcar. nunca. tem q acumular açúcar em vc. amor. tem q acumular crenças até em coisas q vc não acredita. porque qdo vc tem q cavar a própria felicidade, cada dia é uma luta. é uma luta contra o meu estado de espírito, q é sempre depressivo e pessimista, contra o humor do mundo, q é sempre sarcástico. o mundo, ao q me parece, é um tirador de sarro. ele te provoca, te humilha, testa suas convicções. vc pode acreditar num deus q protege e te abençoa, mas daí o mundo, o lugar q vc vive, pode ser o próprio demônio testando até onde essa confiança num ser superior vai.

eu acredito em deus. acredito mesmo. eu não apenas acredito, eu sei q ele existe. deus não é bonzinho nem malvado. deus só quer saber o seu limite. ele não te dá o limite. ele vai te fodendo pra ver o qto vc aguenta. deus quer saber quão forte vc é. deus vai mandar uma tormenta, deus vai mandar muitas tormentas, e elas não são fenômenos naturais. elas são o seu devir. deus é quem julga como vc lida com essa fodelança toda. pq, eu não sei sobre a vida de vcs, mas a minha é sobre o quanto eu me fodi e o qto eu superei cada comida de rabo q eu tomei. como eu me saí de cada uma delas. pq a vida, a minha, meus amigos, é sobre se foder. é sobre perdas. é sobre perder e perder e como eu administro essas perdas. como eu pego as saudades e moldo como argila e faço cinzeiros e fumo e uso esses cinzeiros. vejo vidas bem mais leves q a minha. não sinto inveja dessas pessoas. não hoje em dia, como já senti. sinto amor. tenho vontade de abraça-las e derramar amor sobre a fragilidade delas. pq, como diz o mestre adoniran barbosa, deus dá o frio conforme o cobertor. elas não aguentam os invernos q eu aguentei. então eu as abraço (mentalmente) e quero amá-las e dizer q a vida é linda. q tudo vai ficar bem, q a vida é boa com a gente. apesar de nunca ter acreditado nisso. apesar de achar q viver é atravessar uma piscina olímpica de merda, com leves intervalos q a gente tira a cabeça pra fora pra respirar. no mais, apesar de querer dar amor pra essas pessoas, elas não são as pessoas q eu amo e q eu quero carregar comigo, custe o q custar. comigo, eu só carrego gente q sabe o q é se foder. gente q foi enrabada pelo destino e q sabe como tomar no cu sem baixar a cabeça. esse é o meu tipo de gente. gente q entrou num ringue sabendo q ia perder e lutou. não existe outro tipo de gente q eu respeito. quer dizer, até existe. gente muito, muito iluminada, q só tem o bem dentro de si. não precisa nem ter se fodido, basta q seja o puro amor.

eles prometem uma tormenta e ainda tem aviões pousando aqui do lado. eles prometem uma tormenta. mas ela nunca vai vir.

10 comidas q vc não sabia sobre a inglaterra

nem só de fish&chips vive o homem. apesar deste ser o prato mais “popular” do país (popular no sentido de conhecido, pq, apesar de ser um simplório peixe empanado com batatas fritas e ervilhas, não sai por menos de 9 pounds), esta maravilhosa ilha tem outros highlights culinários.

1 – shepherd’s pie ou cottage pie

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feita basicamente de carne moída coberta com purê de batatas, é o q chamamos de “escondidinho” no Brasil. há controvérsias no nome: a cottage seria de gado e a shepherd’s de cordeiro, já q shepherd significa pastor de ovelhas. é uma torta q surgiu entre as camadas mais pobres da população, pois é feita de “restos”: vc pega a carne assada do dia anterior, desfia, adiciona molho e leguminosas e legumes à gosto (como ervilhas e cenouras), cobre com purê e bota no forno.  ao adicionar farinha de rosca no topo, a torta ganha outro nome: cumberland pie.

2 – fishcake

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o equivalente inglês do nosso querido croquete, só q com peixe. tb é feita de restos. tão popular qto é a fish pie, q é a mesma torta do tópico anterior, só q com peixe no lugar da carne.

3 – afternoon tea

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q os ingleses tomam muito chá, todo mundo sabe. o chá veio lá da china, na época das navegações, no século 16, um pouco depois das especiarias, q chegaram com cristóvão colombo no final do século 15. o q pouca gente sabe é eles têm uma pompa para o tal “chá das 5”: o afternoon tea. no começo do século 19, a duquesa de Bedford, Anna, amiga da rainha Victoria, sentia muita fome no meio tarde. o jantar era servido só as 9h da noite, então ela passou a pedir chá, pães e bolos entre as 4h e 6h da tarde. o hábito se espalhou pelo país e hoje em dia vc, passante casual, pode entrar em qualquer hotel desta londra e em muitos restaurantes e pedir um afternoon tea: uma “torre” com bolinhos, sanduíches e scones, servidos geralmente com chá ou champagne, clotted cream e geléia.

4 – sunday roast

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assim como temos a feijoada aos sábados, eles têm o roast aos domingos. do mais simplório pub ao mais caro restaurante, vc vai encontrar esse rango q consiste num roast (pode ser beef, porco, frango ou cordeiro), acompanhado de gravy, yorkshire pudding  (aqueles “bolinhos” à direita) e legumes tb assados. é um dos meus pratos favoritos, indeed.

5 – eton mess

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o nome por si só já é lindíssimo.  mas é apenas o nosso tradicional merengue de morango. a diferença é que aqui é servido em copos e se popularizaram com diferentes berries. foi criado no colégio Eton, no século 19, e passou a ser chamado de mess pq era uma composição bagunçada de sorvete e frutas. o suspiro veio anos depois.

6 – cheddar cheese

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sim. ele não é laranja. não tem aquele gosto de mistura de resto de queijo. e não é duro. é um queijo macio, pálido, bastante gordo e muito popular na ilha. nasceu na pequena cidade de Cheddar (!), na região de Somerset, no século 12 (!!), e tem certificado de proteção de origem. mas, assim como o parmesão não vem só de Parma, o cheddar pode ser produzido em qqr lugar e levar esse nome. tem tempos diferentes de maturação, logo, diferentes sabores e consistências. aliás, aquele queijo laranja muito popular no brasil é conhecido aqui como queijo americano. essa eu contei pra vcs só pra gente se sentir um pouquinho mais colônia.

7 – scotch eggs

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se vc tem entre 25 e 35 anos e assistia Hermes&Renato, deve se lembrar do bolovo. vcs não imaginam quão feliz eu fiquei qdo vi q a inglaterra não apenas tem o bolovo, mas é extremamente popular.

8  – trifles

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remanescente do final dos século 16, as trifles atuais se parecem muito pouco com a original, q era apenas um creme grosso açucarado de gengibre e calda de rosas. agora é mais ou menos assim: uma camada de “esponja” no fundo (pode ser bolo ou um biscoito esponjoso, como o de champagne), coberta por compotas, frutas frescas ou gelatina, coberta por uma camada de creme grosso, finalizado com chantilly. pode conter álcool ou não. é tipo um pavê…sqn.

9 – prawn coctail

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inventado pela chef inglesa Fanny Cradock, é cafona como manda o figurino dos pratos criados na década de 60/70 e é usualmente servido em taças. consiste em uma salada de alface picada, às vezes com abacate ou pepinos, e camarões cobertos por molho rosé, ou um molho rosé mais encorpado, com raiz-forte e brandy, e uma fatia de limão.

10 – cornish pasty

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parecida com uma empanada, feita de uma massa pesada de torta como massa podre, é a on-the-go mais popular e estão disponíveis em qqr vendinha inglesa desde o século 13. a versão tradicional leva carne e vegetais, mas uma infinidade de recheios estão disponíveis.

30 anos

nos primeiros meses ainda me dava ao trabalho de desafiar. “how old are you?” “you guess”, esperando q as pessoas me dessem 25, 26. hoje em dia, já respondo logo. 30, pá. não é bem a minha idade. na verdade, eu já fui bem mais velha qdo era jovem, hoje sou muito jovem mesmo qdo as pessoas acham q eu estou velha. “old to begin, i will set you back, set you back, set you back”. isso tudo só rolou qdo eu realizei q vou viver 80 anos. não me perguntem por que eu sei isso, eu apenas sei. sempre soube q não ia morrer atropelada ou num acidente, nunca achei q meu avião fosse cair, tb nunca me vi tomando um tiro ou tendo uma doença raríssima e morrendo precocemente. 
minha vontade de ser chef de cozinha decresce conforme me torno uma chef de cozinha. demorei um mês pra dominar a seção q trabalho. um fucking mês é muito tempo, mas ainda assim acho q estou acima da média. a média, por sua vez, é bem ordinária. vi hoje, pela menina q faz a seção de peixe. em algum momento muito, muito busy, ela foi pra minha seção fazer uns trampos enquanto eu cortava frios no fundo da cozinha. qdo voltei, era um sem número de erros q tive q consertar, tomando bronca da chef, como sempre tendo meus rins comidos pelo erro dos outros.
ainda não aprendi a dizer não. tb não aprendi a dedurar. às vezes me dou ao trabalho de me defender, dizer quem errou, mas na esmagadora maioria das vezes fico quieta, balanço a cabeça com um ar de complacência, dando um leve sorriso, aquele sorriso de gente curiosa q tá ali pra aprender. 
sim, eu faço muito esforço hoje em dia. todo esforço q eu não fiz a vida inteira. faço esforço para ter bom humor, por exemplo. raramente acordo mal ou bem humorada. acontece q eu acordo, primeiro eu acordo. entre levantar da cama e ser capaz de dialogar com alguém demora cerca de uma hora. o q me faz lembrar de um namoradinho q acordava pulando na cama, de bom humor, numa verborragia pura. até hoje não sei bem como fui capaz de aguentar esse ser humano por seis meses. talvez pq era só de final de semana. a Barbara, a melhor pessoa q Londres me deu, tb é assim. tinha dia q a gente acordava juntas e tomávamos nosso café no jardim em completo silêncio. já não posso mais lidar com seres humanos q não absorveram os silêncios confortáveis. eu e Barbara não estávamos bravas uma com a outra, não estávamos nada, estávamos apenas respeitando o tempo do nosso corpo acordar. 
sou uma pessoa de longos silêncios. de solidões q precisam ser respeitadas. talvez seja por isso q passei os últimos 30 anos completamente em pânico com o casamento. pq, às vezes, numa frequência talvez alta, eu precise ficar apenas comigo. processar pensamentos, escrever, responder emails, ler, ver um filme, falar sozinha as piadas sem graça q me fazem gargalhar. 
então eu acordo e saio de casa no esforço de não chutar ninguém já na escada rolante pro metrô. me esforço pra ser o mais gentil possível. as pessoas estão no direito delas de serem escrotas, eu escolhi ser gentil. era muito adolescente viver do revide. se o mundo te trata como merda, vc trata todo mundo como merda. não. se o mundo me trata como merda, eu não quero ser um deles. então eu chego na cozinha as 9h da manhã e dou bom dia e beijo e abraço todo mundo. todo mundo mesmo, do chef de café da manhã ao porter e os garçons, q faço questão de chamar pelo nome, beijo todo fucking mundo. pq existe essa separação de classes ridícula, as pessoas são educadas com quem tá na classe delas. eu vejo as coisas mudando. o q antes era “service!” virou “service, please” desde q eu comecei a gritar “service, please”. qdo o porter traz os pratos, eu falo obrigada e agora vejo q as pessoas falam obrigado tb. pq, porra, essas galeras não são seus escravos. eles estão fazendo o trabalho deles, e vc tá fazendo o seu, num custa um mililitro de saliva mandar um obrigada pro cara. 
antes eu esperava q as pessoas reconhecessem essa gentileza em mim. acho q até hoje espero um pouco, principalmente qdo o dia acaba e eu volto pra casa chorando por ter sido feita de idiota em algum (alguns?) momento do dia. pq é isso, qdo vc é legal, as pessoas acham q vc é trouxa. elas te passam a sela e montam em vc sem titubear. e tem gente q vai montar e meter a espora na sua lomba mesmo. então eu choro pq dói. dói uma dor q é a dor do mundo. dá raiva. dá vontade de ser filha da puta como eles. 
mas eu não sou um deles. houve um momento de depressão ardida e profunda em 2011 (maldito seja 2011) em q eu estava completamente cínica e arrogante. a talita, a gisele, elas devem se lembrar. estava distribuindo patadas sem sentir um pingo remorso posterior, chutando carros, querendo esfaquear a cara de alguém pelo simples prazer de ver sangrar. ninguém me enfrentou, ninguém disse q eu tava errada. todas se acovardaram e falaram de mim pelas costas. isso eu tb sei pq eu sei, ninguém nunca me contou. era uma depressão muito fudida, q eu nunca mais tive. tenho buracos negros, os buracos negros são como surtos e os tenho desde muito nova. mas depressão como aquela, graças a deus ou a muitos deuses q acredito, nunca mais. 
falar q eu sou uma pessoa calma hoje em dia? não sou. hoje mesmo tive duas horas de pesadelo massivo na cozinha; um dia todo muito calmo, na qual pude fazer meu mise en place em paz, cantarolando, enterrado por uma avalanche de pedidos q chegaram todos ao mesmo tempo entre 8h e 10h da noite. não gritei com ninguém, não dedurei a menina da seção de peixe, não quebrei nada, não cortei o dedo; mas ao final do serviço meu estômago doía tanto q eu mal conseguia respirar. can’t you feel the knife? entrando no bucho, te rasgando de baixo pra cima, if i was seventeen that would be a scream. muito certa de q seria apenas um grito. 
era muito fácil ter 17, eu nem sabia. digo, se penso agora, meus 17 anos foram uma merda bonita como as canções do belle&sebastian, a minha banda favorita na época. a graça de 2000 foi ter o Michael, nos éramos o holden caulfield, desperdiçamos carnavais escutando secos&molhados e smiths, mascando bolacha maisena velha, tomando conhaque barato, lendo poesia, discutindo a falência da humanidade. eu era muitíssimo mais profunda aos 17 do q sou hoje. hoje eu sou só um saco vazio de arrependimentos, de amores q não aconteceram, de amigos q ficaram em outra terra, de uma revolução q nunca veio. 
então se vc me pergunta hoje, do alto dos meus 30 anos, se eu voltaria a ter 17, eu posso te dizer q não. eu gosto de ter 30. eu não faço ideia de quem eu sou, mas eu lembro quem fui e já vislumbro o q eu quero ser. 
eu quero ser gentil. mesmo q eu volte chorando pra casa todos os dias da minha vida. 
eu. não. compactuo. com. o. gerador. de. sofrimento. 
eu não sou um de vcs. eu sou amor. eu sou amor da cabeça aos pés. mesmo q eu despenda centenas de milhares de quilowatts de energia pra sorrir pra quem eu gostaria de chutar no olho. mesmo q doa tomar bronca pelos outros, q doa morar sozinha numa cidade cinza e sem coração, q a saudade dos meus me coma os pleuras. mesmo q os trapaceiros montem em mim, q os fofoqueiros façam gracejos da minha idiotice. vou me manter fazendo perguntas idiotas não apenas pq eu quero saber as respostas desde sua raiz, mas pq, talvez, minhas perguntas complicadas não possam ser entendidas. 
obrigada, 30 anos. é muito bom estar aqui. parece q eu sempre quis chegar exatamente aonde eu estou. mas não vejo a hora de chegar nos 40.