being chef

cozinhar

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dear Kiran,

lembro de vc na maioria dos dias da minha vida. agora em agosto completou 8 anos q nos vimos pela última vez. passei em Londres pra me despedir pq sabia q não voltaria – não pelos próximos 10 anos, pelo menos. 

queria muito te contar que minha trajetória na cozinha me levou de fato a chefiar uma equipe.

nas outras vezes q me colocaram nesse cargo não deu exatamente certo, dessa é como se fosse minha primeira vez.

posso te passar meu currículo depois q saí do Montcalm pra que vc entenda melhor: trabalhei como commis no Sofitel da Piccadilly Circus, depois fiquei lavando a louça de um restaurante brasileiro com dois cozinheiros cubanos num verão em Berlin, daí fui ser cozinheira de um pub familiar no subúrbio de Sydney e então voltei pro Brasil.

no Brasil, logo que cheguei, fui sub-chef de um restaurante de saladas, chamado Eba!, por umas duas ou três semanas, lugar da qual pedi demissão por incompatibilidade profissional com o chef e logo em seguida entrei pra ser cozinheira na Vila das Rosas, segure este nome. participei de uma obra na Bienal em 2016 que era uma cozinha, o Restauro – em algum momento a Casa Grande decidiu me dar a chefia da coisa, papel q não consegui desempenhar pois éramos todos anarquistas, ninguém reconheceria minha autoridade assim como eu mesma não o faria. era uma obra vegana de militância anarquista em seu chão de fábrica & forma, conteúdo intelectual e dinheiro na Casa Grande. o nome da Bienal foi exatamente o q vivi ali, incerteza viva.

de lá, eu segui ser chapeira de um bar ilegal na Joaquim Antunes, onde eu tb trabalhava ilegal, claro. foi uma grande virada da militância pro foda-se preciso pagar minhas contas. eu trabalhava sozinha, melhor trabalho.

depois, tentei a carreira solo vendendo marmitas e indo a eventos vender coxinhas – minhas coxinhas eram muito boas. mas fazer coxinhas é um saco e eu arrumei outro emprego, na Paca Polaca, fazendo almoços veganos com acompanhamento de proteína animal e foi muito massa. eu aprendi muito nesse lugar sendo cozinheira, que é o que eu sou de verdade. eu não me sinto a chefe da cozinha pq o meu lugar é no fogão.

daí eu saí da Paca e voltei pra Vila das Rosas. foi complicada minha chefia ali, mas não só isso: foi tolhida pela pandemia. Todas foram mandadas embora e ficou eu, meu assistente e os proprietários tocando o negócio. daí no segundo trimestre eu saí, pra chefiar um lugar com 6 pessoas na cozinha e uma no frigorífico. é muita gente pra administrar depois de tanto tempo fugindo disso.

as questões permanecem as mesmas, autoridade, respeito, reconhecimento, lidar com a estagnação e velhas manias, melhorar e em alguns dias desanimar, é sempre as mesmas coisas, e é aí que mora o aprendizado. isso é o tipo de coisa q vc falaria qdo entrávamos em questões de trabalho. vc foi escroto comigo, eu me lembro de ter ficado realmente machucada algumas vezes, mas o que me resta de tudo q eu vivi com vc são aqueles conselhos engraçados e espertos sobre tudo o q eu aprendi na cozinha, da confeitaria à praça fria, passando pelos molhos, comida dos funcionários, café da manhã, eventos e serviço de quarto, muito do q eu aprendi foi com vc. foram anos muito intensos pra mim – e acabou de maneira intensa tb, como todos os meus trabalhos. eu saí de todos os meus trabalhos depois de entrar em crise e surtar, com Montcalm não seria diferente. mesmo pq não era um lugar tão calmo assim.

em uma das nossas conversas, logo no começo, quando vc ainda não me respeitava como cozinheira, eu perguntai quantos anos vc tinha, vc disse 34. eu respondi que tinha 29, que era praticamente da sua idade. quando completei 34, lembrei de vc. a idade q vc tinha quando te conheci.

aonde quer que vc esteja, espero q esteja feliz. obrigada por todos os ensinamentos, chef. espero que um dia eu volte pra Londres pra gente colocar a conversa em dia e provar nossas comidas.

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carta de despedida

ssf,

faz muito tempo q a gente não conversa. apesar de saber q vc me assiste aí do plano astral q vc tá, queria compartilhar com vc umas palavras de despedida. é a despedida do blog e a despedida de mim mesma – morreu há uns dias a kátia velha e venho nos últimos dias tentando me adaptar à kátia nova (qdo vc tá perdido de vc mesmo, ganha, automaticamente, o direito de falar de si na 3a pessoa).

tenho a sensação de estar fechando um ciclo de 5 anos agora em 2015 – pouco importa. importa q, sim, o meu coração diz q eu fechei um ciclo de 5 anos e começo um novo agora, q pode ser de 5, 10, 132 anos, tanto faz. o importante é olhar o livro da vida e ver q a kátia q entrou pela porteira de 2011 não é a kátia q tá fechando a porteira de 2015.

o mais importante a ser falado é q eu virei crente. apesar de não frequentar nenhuma religião ou ir a qualquer igreja, falo com deus e prego. assim q me dão uma brecha, lá estou botando o nome de Deus na roda e argumentando em Seu favor. isso é o q tem sido o mais esquisito na existência nesse momento. as pessoas não gostam. a maioria delas não gosta de falar de deus, ou de jesus, ou de qualquer parada q tenha sido manchada pela igreja católica ou evangélica ou similares. essas igrejas me encheram de ódio contra o nome de Deus, como se fosse Ele o culpado pelo ser humano ser porcaria. até achava isso tb, e às vezes me pego rezando fervorosamente por um dilúvio – ou alguma novidade climática q vai dizimar o humano da terra. de qqr maneira, pouco importa como caminha a humanidade. entendi q não podemos cobrar nada de ninguém além de nós mesmo. então eu faço a minha parte, tento dar o melhor de mim para os seres vivos q estão à minha volta, como as plantas, os animais, as crianças, os velhinhos. tento ser gentil e amorosa com esses seres todo o tempo, e com os inanimados tb, como o ar e a água e a comida. procuro manter as coisas limpas e organizadas, me policio para não ficar opinando sobre a vida dos outros, tento não ficar xingando tudo o tempo inteiro como era antigamente, não porque me tornei uma otimista, mas pq entendi q 1- não ajuda em nada e 2- a palavra é feita de éter e éter é um mecanismo de materialização do cosmos.

em pouco menos de um ano pra cá, o mundo espiritual resolveu me arrastar pelos cabelos. um dia acordei e não queria mais beber (coisa de paladar mesmo, parei de apreciar), então parei de comer carne pra poder meditar melhor (e agora não posso nem pensar em carne q me dá enjoo), parei de transar tb (eu apenas não tenho vontade, apesar de bater uma com alguma frequência) e ando achando os palavrões esteticamente feios. é anti-estético e anti-harmônico falar um palavrão, apenas isso. meus ””’amigos””’ acham q eu deixei de fazer tudo isso pq eu virei crente, mas não, é o contrário. isso tudo parou de acontecer para q eu virasse crente.

nos últimos tempos, começou a ficar difícil de sair. chego nos lugares e tenho vontade de ir embora em 5 segundos. todas essas poses, essas máscaras sociais, o cheiro de cigarro, a necessidade q as pessoas têm de se embebedar, a superficialidade das relações; isso tudo se comporta como um laço no meu pescoço, q vai apertando e sufocando a cada respiração – e isso não é uma metáfora, é uma sensação física. eu realmente sinto isso se me deixo levar pela vibe. então eu respiro, respiro fundo algumas vezes, e lembro q tudo isso não passa de uma ilusão, q nada existe e q pouco importam os meus julgamentos e minhas inadaptabilidades sociais. me sinto feliz e completa pensando na minha insignificância perante o universo. então, assim, consigo lidar com eventos sociais.

é importante frisar q em nenhum momento eu escolhi esse caminho. a vida foi me levando a isso, ao lugar q eu me encontro hoje e, daqui, posso falar q não é confortável. não é nem um pouco confortável ter sido alguém a vida inteira e então já não se reconhecer mais – tanto em mim mesma qto em meus iguais. principalmente depois de ter passado 3 anos fora do país. em um ano, me desconectei completamente de 2 pessoas q eram amigos antigos pq foi tão chocante ver o abismo existencial q havia entre a gente q eu apenas não pude lidar. pra mim (e eu realmente me sinto meio covarde falando isso), foi mais fácil apenas parar de falar com estas pessoas. mas o q tem acontecido, nas últimas semanas, é q vejo os fios q me ligam aos mais próximos se desconectando tb, aos poucos, partindo de mim ou deles.

(um adendo: qdo eu falo VER, quero dizer q vejo mesmo. vejo no fundo da minha mente, com um olho q não é nenhum desses dois abertos. por não ter nenhuma técnica ou domínio, essas visões vão e vem qdo quer, com quem elas querem tb ¯\_(ツ)_/¯)

tb não é confortável deixar cair a máscara da perfeita. lendo um diário de 2010, encontrei uma série de páginas q descreviam meu carnaval na praia, com meus amigos do interior. foi o carnaval em q eu me descolei completamente deles e eles de mim (e td bem). num determinado ponto, cheguei numa aspa da mulher do meu amigo “a kátia quer ser a melhor em tudo”, escutei de rabo de ouvido, passando pelo corredor. minha amiga, vou te falar: é horrível querer ser a melhor em tudo. horrível, pq a autocobrança beira a neurose. meu autojulgamento é ardido e ferino como é com os outros e viver nesse tribunal é uma condenação in loco, ao vivo, q não cessa. mesmo q o meu pudim estivesse perfeito, deliciosamente perfeito, eu ia encontrar um mísero defeito, um defeito estúpido qqr q fosse e ia condenar o pudim inteiro por isso. isso está mudando tb. na verdade, essa é a maior das minhas lutas nesse momento: a de parar de querer q seja tudo perfeito. tem q ser impecável – mas não precisa ser perfeito.

no meu primeiro emprego em Londres, na primeira semana, o sous-chef indiano me chamou e falou: “experimenta essa sopa”. estava horrível, e eu falei pra ele. ele respondeu “foi o chef q fez. é importante q vc saiba q até o chef erra às vezes”. nos últimos tempos está difícil cozinhar. qdo estou sozinha em casa e cozinho pra mim, fica invariavelmente perfeito. perfeito no meu nível de perfeição mais chato, mas se cozinho pra alguém, tem dado ruim. prefiro pensar q é treinamento, q é o mundo testando se eu tô desapegando da perfeição mesmo ou se eu tô só fingindo q enxergo essa sobressalência do ego mas continuo mergulhada em autocobrança.

hoje tava arrumando o armário e encontrei minha dolma de chef. um arrepio subiu minha espinha, eu até salivei de nervoso. existem ambientes de trabalho insalubres e existem as cozinhas, q ficam uma escala abaixo, como vcs podem constatar em todos esses posts. se eu sou chef, se eu fui, se um dia eu vou ser? não sei. não importa agora. é por isso q o being chef fica por aqui.

por ora, estou ocupada demais tentando entender pra onde caminha a minha existência, como ficam as coisas qdo vc não consegue se encontrar em lugar nenhum, exceto qdo vc está conversando com as plantas e com os animais, pensando em qta beira de loucura vc tá pisando. e qto isso tudo, também, não importa.

até logo,

k.

um pouco de primeiras vezes

(é q eu li esse post e esse daqui e deu vontade de dividir)

hoje eu trepei com um cara. achei no tinder, ele se ofereceu pra uma –caminhada na praia– e então viemos pra minha casa. ele brochou. digo, ele não brochou, o pau dele nem ficou duro. em nenhum momento achei q a culpa fosse minha, do meu corpo, da minha depilação mal feita, do meu cabelo de passarinho recém-nascido. fiquei um pouco frustrada pq, né, sofro de blue balls. minhas bolas imaginárias doem qdo acho q vou trepar e não trepo. daí a gente começou a conversar sobre todas as trepadas fracassadas (como essa) da nossa vida. tb falamos das trepadas em lugares estranhos (ele gargalhou qdo eu contei q já tinha feito num milharal :)) e então falamos dos nossos tipos favoritos de pornografia e das posições e, qdo vi, o pau dele estava duro e a gente trepou. foi a primeira vez q eu não achei q alguém tinha brochado porque não tava com tesão em mim. talvez até fosse, mas eu simplesmente caguei e andei. na verdade, tava quase pegando o celular e mandando mensagem prum ogro q faria o serviço e acabaria com essa minha angústia hormonal.

no meio dessas conversas, ele falou q eu tinha o “tesão muito regulado pra uma garota”, que isso é “coisa de homem”. contei q cresci com moleques e q sempre quis ser um deles. lembrei da minha misoginia, do pânico, da aversão, do horror q eu tinha à garotas. e, falando disso, contei tb q passou. q hoje, aliás, sou muito legal com as garotas só pelo fato delas serem garotas. pq o mundo já é escroto suficiente com a gente. foi a primeira vez q rolou uma faísca de feminismo no meu coração. pq, até então, via como um movimento político q precisava de uma dose de informação para existir. mas acho q não. existe um feminismo em mim só pelo fato de eu querer ser legal com as garotas. de não achar mais q elas são todas umas vacas q vão roubar meus namorados. de não achar q estamos numa disputa por nada. de não achar q elas (eu) são frescas e mimadas. q somos todas daora e q se tem garota chata, é pq tem cara chato tb. não é o sexo q define a maneirice das pessoas (como durante muito tempo eu achei). tb me liguei q ser machista, isto é, querer ser igual aos machos, não me faz melhor q ninguém. pelo contrário, faz de mim uma escrota. eu não quero ser igual a eles. eu quero ser mulher. e não me importar se eles tão me julgando ou não.

o cara foi embora e eu saí pra jantar. voltando pra casa no meio duma crise de enxaqueca, fiz uma das minhas piadas sem graça. “achei q a vida era sobre trepar com o maior número possível de pessoas até o dia q vc se casa e não come mais ninguém”. e ri.

2014 ❤️ e obrigada

um amigo postou Time to Pretend, do MGMT, q, confesso, é uma musicaça. escutei e cantei junto, mas não bateu. hoje, 29 de dezembro de 2014, não bateu pq eu não sinto q tô condenada a fingir nada. se tem uma coisa q eu aprendi em 2014 foi q eu não preciso fingir, não preciso fazer sala por politicagem, não preciso ser legal com gente idiota, não preciso andar com quem não é da minha laia. aprendi muita coisa. foi um ano comprido demais. tem amigo até chamando de “década de 2014” haha.

não tenho memória do primeiro trimestre – tão longe ele está de mim. só lembro de ter decidido mudar pra austrália. e cá estou mascando umas castanhas de pijama enquanto tá um dia lindo de sol lá fora e tem uma praia a 3 quarteirões da minha casa. q posso fazer se não gosto de praia, né?

tá, daí no primeiro semestre eu tive uma crise de estresse bem fodida, com direito a gastrite, insônia, enxaqueca, ombros travados, depressão e tudo. uma maravilha oferecida pelo nosso tempo, q te faz correr muito e mais pelo dinheiro de alguém. qdo entendi q estava ficando doente pra salvar o cu de alguém (pq não era o meu. o meu era o q tava sendo fodido sem dózinha), pedi demissão e mudei pra berlin.

mas a crise existencial não quer saber onde vc mora. ela te segue. berlin foi um oásis pq evitei fazer tantas perguntas e pq era a transição entre a europa e a oceania. então veio o brasil e o brasil me enterrou na avalanche das questões q eu estava desprezando.

isso de maneira alguma deve servir como desculpa por não ter visto meus amigos direito, por ter passado 4 semanas trancada em casa, pelos jantares de não terem sido como imaginei e por eu nunca ter agradecido pelo crowdfunding q me levou até vcs. então tô escrevendo esse texto pra dizer obrigada.

obrigada pra lindeza das pessoas q se empenharam numa causa besta, mas q fizeram isso sem questionar o mérito. q fizeram isso apenas simplesmente pra me ter por perto. pra me dar um amasso, um abraço, pra escutar minha risada, pra comer minha comida (q eu nem achei q tava boa, me desculpem :(). obrigada por abrirem as suas casas e por terem sido tão lindos comigo. toda vez q tenho viagens de ego, penso q isso é a coisa mais princesa q me aconteceu. as pessoas desembolsaram muitos reais apenas pra me ter perto delas. e isso não existe dinheiro q pague. o amor, a amizade, o carinho, a consideração.

obrigada por cada coxinha fritada, por cada risoto, por cada sobremesa, por cada cerveja e canção repartida. eu queria q tivesse sido mais e queria estar completamente ali com vcs. metade de mim estava vagando pelo mundo buscando respostas, então obrigada e desculpa.

e queria contar tb q eu tô voltando pra casa em fevereiro. quero ficar por perto. abraçar mais. amar mais. e se fiz o caminho inteiro com canções, tem q ter uma pra esse post tb.

Did I tell you of the dark lonely road
I was counting my steps as I made my way home
Days of nothing but time on your hands, weighing on me
Came to my end, undecided
Whether to count what I felt against what I could say
I try not to wonder, or tell you that I’m not willing to wait
‘Cause deep in my heart I’m willing, heart’s still willing
My brain’s impatient, my heart’s still willing to wait.
Our love is so important to me ❤

obrigada, 2014, por essa explosão de sentimentos e pessoas e lugares q veio com vc. e q venha 2015. e q a gente possa gastar mais tempo junto e menos tempo correndo por dinheiro. amém.

texto crente, vamolá, mais lições da oceania

tem sido uma semana um pouco louca, todas as semanas têm sido um pouco loucas desde os meus, não sei, 13 anos? DOISMILECATARSE, haja catarse, é catarse aqui, ali, toda hora uma catarse, foram tantas q ficaram um pouco corriqueiras e malinterpretadas, ficaram pela metade. mas 2014 não tá deixando nada pela metade, q acabe aqui, q vc entenda aqui o q aconteceu e vai limpo, purificado, pós-catarse pra 2015. pq né, o destino de 7 bilhões de pessoas deve estar diretamente atrelado a uma virada de ano. não acho, mas pensa na energia q essa parada movimenta, as pessoas sacrificam e assam animais, explodem fogos de artifícios, olham maravilhadas, catarticamente maravilhadas, pras explosões no céu, pensam num pacote de coisas incríveis q aquele ano vem trazendo consigo: o nascimento do Felipe, o casamento do Julinho, a volta pra casa, a mudança da Nona pra um bairro novo, os negócios do Altair q finalmente vão dar certo, a aposentadoria do tio Lelo vai sair, a viagem pra Disney da Clara, a minha própria viagem pra Cancun, a paz na Faixa de Gaza, um emprego novo q pague melhor, menos trânsito, um novo começo de Era de gente fina, elegante e sincera, uma banda larga q caia menos, q a Maria volte da Alemanha, tudo isso e mais, mais. viva o ano novo e viva a festa na casa da Carol, onde 35 pessoas se movimentam pra se abraçar e comer e beber e terminar a noite desfilando ébrios e rindo dos passos de dança um do outro. não existe tristeza no ano novo. mesmo q vc se sinta um pouco melancólico por algo, com certeza não é pelo ano q vai começar. vc não pensa “pqp lá vem outra merda de ano, outro 2011, outro 2013, vou me afogar em dívidas, tomar um chifre e meu chefe vai me foder e vão roubar meu carro na semana q eu tiver esquecido de pagar o seguro”, não, ninguém pensa isso no ano novo. o ano novo é a pura explosão das good vibes e dos bons desejos e isso é importante pra alimentar a energia do mundo, pra dar um empurrão no q vem e no q tem q virar.

a verdade é q minha saga mundo afora está chegando ao fim. foram 3 anos de um incansável cansado rolê. não escalei montanhas, mas tive q cortar muito mato atravessando floresta. não nadei em muitos mares, mas me afoguei de chorar algumas vezes. teve dia q doeu mais, teve dia q doeu menos, teve dia q foi feliz. me apaixonei, desapaixonei, dei pra bem menos gente q pretendia, tb morei em menos lugares do q imaginava.

colecionei sonhos. parei minha busca não porque encontrei o q estava procurando, mas pq entendi q, o q está me procurando, ainda vai me encontrar. conheci gente muito legal, conheci gente escrota. teve dia q a saudade era tanta q eu poderia voltar pra casa nadando. teve dia q eu podia ter ficado ali pela Europa pra sempre.

teve vez q questionei a validade de tudo q estava passando, teve noite q dormi num contentamento saboroso por estar conquistando tudo isso.

ganhei menos cicatrizes do q imaginava, e não fiquei tão veloz picando legumes como queria. tem gente q vai comigo pro fim da existência, tem gente q ficou onde eu conheci.

tem dia q quero cozinhar a vida toda, tem dia q quero virar uma burocrata. tem comida q me acho o Ramsay, tem comida q me acho uma retardada. tem dia q eu quero q tudo se foda, tem dia q eu quero tudo perfeito.

viajei menos q eu queria. tive q mudar pra Austrália pra ver quão pobre eu era em Londres. pq, qdo eu morava lá, não me achava tão pobre assim. não tinha muitas ambições. voei pra países vizinhos pra encontrar amigos, era isso q me tirava da Inglaterra. não que eu amasse a Inglaterra, né? mas eu era pobre e minha vibe nunca foi a de fazer dinheiro. minhas piras estavam relacionadas com o meu aprendizado e com a minha evolução na cozinha. não me arrependo de nada. não acho q poderia ter aprendido mais do q aprendi, não acho q deveria ter trabalhado num restaurante Michelin.

foram 3 anos fazendo perguntas sem resposta. em algum momento eu notei q eram as perguntas q estavam sendo feitas de maneira errada.

já falei do meu relacionamento com deus, certo? converso com Ele na brodagem. outro dia, conversando com o Tom, tomei uma bronca. “Deus não é seu bróder. ele é grande demais. tem que temer e respeitar Deus. tipo temer. se ele quiser, te esmaga que nem uma pulga. então much respect”. mas deus é a física. é soma de todas as energias geradas no universo. todas as inteligências somadas tem como resultado = DEUS. então não é q deus é meu bróder, eu sou parte de deus e deus é parte de mim. deus existe pq eu existo e eu existo pq deus existe. é bem tostines essa.

então a saga de exílio foi indo. com seus altos e baixos. qdo cheguei em Sydney, vinha de dias esquisitíssimos no Brasil. venho de uma crise existencial q durou quase 4 anos. aqui atingiu seu pico. eu queria descobrir o sentido da vida. não só da minha, mas de todas as vidas. da pedra, do ar, do cachorro, da via láctea, do universo, de deus. pra piorar minha situação, mudei pra uma casa onde moram dois velhinhos. do lado do meu quarto tem uma estante de souvenires. do Alaska a Palma de Mallorca, passando por Paris e Japão, tem uma montanha de pratinhos, pelúcias, fotos, postais, bonequinhas, adesivos, miniaturas, camisetas, tudo amontoado, criando poeira e mofo na mudez dos dias. a velha é uma filha da puta encrenqueira, o velho está surdo e passa os dias lendo e cochilando no sofá. eles correram o mundo e eu nunca vi um neto visitar e perguntar o q eles viram. a crise existencial entrou numa agudeza q tinha dia q eu não conseguia respirar. sufocava de tristeza. a gente vive, vive um monte, acumula histórias e lugares e sonhos e coisas e dinheiro e amigos e miniaturas pra um dia ficar velho, surdo e sozinho. era isso q eu pensava.

na noite q eu postei essa musiquinha do Finn “i’m lost in the darkness” chorei bastante. meu peito moía de dor. então virei pra deus e falei “cara, me tira da escuridão. me ensina a ver a luz”. foi qdo eu entendi q eu estava fazendo as perguntas erradas. a pergunta errada era “deus, pq isso tá acontecendo comigo?” e a pergunta certa era “deus, me ajuda a ver a luz?”

essa foi a primeira lição, a primeira respostas das muitas perguntas.

a segunda e a terceira vieram numa catarse.

estava num barco na baía de Sydney. era um sábado. na sexta, tinha bebido e brigado com deus. tradicionalíssimo brigar com deus na minha vida. então era sábado, tinha passado o dia bebendo no barco e, já de noite, o peguete acendeu um bék. dei um pega ou dois. ele dormiu e eu saí pra fazer xixi. foi qdo eu vi a baía de Sydney de noite, toda iluminada, refletindo no mar. o ar estava ótimo e fresco. achei a vida linda e daora. e comecei a chorar e pedir desculpa pra deus, pq a vida é linda. eu podia ver e sentir o quanto a vida é linda e gigante. e, enquanto eu chorava, começaram a vir imagens na minha cabeça. a primeira delas era uma cachoeira. a vida é uma cachoeira. ela nunca para de correr. e basta q eu junte as mãos em concha pra matar a sede. a outra imagem era uma luta de espadas. não adianta brigar pelo q não é meu, nem pelo q é meu. não existe briga q se justifique. tudo vem como deve vir.

foram duas respostas depois de três anos de pergunta. passei 3 anos reclamando da falta de vida e o q faltou, na verdade, foi eu buscar a vida. a vida está rolando a todo momento, a gente é q se esconde. e, 2, se existe destino e livre arbítrio. existe destino E livre arbítrio. o livre arbítrio é sobre a sua liberdade de sentir/aceitar as coisas como elas lhe são dadas. somos nós q fazemos nosso caminho e somos nós q sabemos o q carregar na nossa mochila. isso é livre arbítrio. é vc escolher o q vc é nesse planeta.

isso está diretamente atrelado a outro assunto q tô querendo muito falar q é: rodada?

antes de sair essa babaquice na internet de “não mereço mulher rodada”, tinha feito um post no facebook q era meio q “o menino veio, me comeu e foi embora, estou apaixonada”. faço vários posts só pra causar ou pra chocar, pq acho esse planeta muito cheio de gente sem graça e sem espírito. desculpa, falei. esse post era um misto de piadinha (me apaixonei pq o menino foi embora, se ele tivesse ficado, em 15 minutos de conversa eu estaria irritada desejando q ele se tornasse uma pizza?) com causação (eu como quem eu quiser quantas vezes eu quiser pq me foi concedido o direito de ser dona do meu corpo? obrigada, de nada).

eu “emprestei” (dei, não. não dei pq a buceta ainda tá aqui comigo) bastante. não tanto quanto eu gostaria, verdade. por mim, teria emprestado pra tipo o triplo de gente. pq teve muito cara q não quis me comer. bem normal. eu tb não quis emprestar pra um monte de gente.

então um amigo de Monte Alto veio me falar q eu “choquei alguns amigos”. daí me lembrei do Fulano de Tal, filho do Fulanão de Talzão (é tudo assim no interior), q comia uma garota por semana com seu carro esporte cabriolet. o Fulano era um filho da puta. escroto, destratava pessoas, usava as meninas como um pedaço de plástico, era arrogante, mesquinho e mimado, falava merda adoidado e todo mundo gostava dele mesmo assim. daí se eu reproduzo PARTE do comportamento de Fulano (parte. não sou escrota, não destrato ninguém, não tenho um carro esporte pra pegar caras etc., mas acho q sim, os caras q eu como são meio q só umas carne na minha cama, eu trepo só pq é gostoso mesmo), eu sou piranha. eu, q só quis ser piranha a vida inteira e era a menina q tava sempre escrevendo poesia deprimida pq não era gostosa. não sou feminista. aliás, hoje em dia já não milito por nada além de um sushi bem fresco no restaurante japonês.

o lance é: ser rodada ou não NÃO influencia no ser humano q eu sou. assim como ser viado, ser anão, ser jornalista, ser rico, ser pobre, ser lindo, ser loiro, ser gordo, ser vegetariano ou ser qualquer outra coisa não dizem nada sobre o q as pessoas realmente são. a casca é a casca, o recheio é o recheio. vcs têm q aprender a ver o recheio das pessoas. vcs tem q aprender a ver pelo q elas lutam e pelo q elas choram. pq o qto elas dão o rabo (delas, por sinal) não é problema seu e não deve mudar sua visão sobre elas.

obrigada, de nada.

agora, voltando às compreensões, a quarta lição veio num dia q eu tava no busão olhando as árvores. tem muitas aqui em Sydney. e tem umas bem grandes, bem velhas. compreendi q ˜˜as árvores somos nozes˜. árvores crescem em dois sentidos: pro alto (o mais alto q elas puderem, pra sempre ficar mais perto do sol <3) e chão abaixo. qto mais alta a árvore, maiores as suas raízes. assim tem q ser o homem e sua consciência. qto mais vc expande o pensamento, mais firme vc tem q ter os pés no chão, senão perde o equilíbrio. tentando interpretar essa resposta (uma das minhas perguntas existenciais é correlatada), entendi tb q deus não é uma inteligência superior q comanda tudo. Ele é a reunião de todas as inteligências e depende da expansão da nossa mente pra expandir tb. no momento q a gente descobre algo, isso é acrescentado à inteligência de deus.

então para de gastar seu pensamento com merda. segue as árvores: pro alto e avante. e colabore pra evolução do universo.

das coisas irrecuperáveis

de vez em qdo me pego pensando nos meus amigos lá de trás, os de monte alto. pq hoje foi um dia daqueles bem normais, q trabalhei por 12h e, no final, sentei pra tomar uma cerveja. como trabalho num pub, sempre tomo uma cerveja qdo acaba o expediente, mas hoje, com meio pint, eu estava alegrada. talvez pq eu não tenha comido nada o dia todo? nem lembro. mas estava bebinha e uma das meninas q trabalha no bar começou a rir “hahahahah vc fica fica beuda com meio pint, q inveeeeeeeejaaaaaaaaaaa” haha eu nem sei o q eu senti na hora, só sei q me veio uma avalanche de memórias, num bloco pesado de concreto q me tirou o ar. eu era um dos caras, cara. eu bebia tanto quanto eles. eu lembrei disso. não sou mais um dos caras. pelo contrário. a cada dia q passa, jogo cada vez mais no time das mulheres. pq né, eu era do time deles. jogava futebol com eles. bafo. cavaleiros do zodíaco. lego. polícia e ladrão no quarteirão. batia nos meninos q batia no meu irmão. batia nos meus amigos. fazia charme com os meus amigos pra eles fazerem ciúmes nas meninas q eles queriam ˜˜ficar. eu era tanto um deles q, teve um dia, eles bateram punheta e gozaram numa tampinha de gatorade só pra me provar q porra tinha cheiro de cloro. a gente tinha uns 15 anos, eu acho.

era eu, o dani, o lely e o zé galinha. o dani e o lely eu conheci em 1988, qdo entrei na escolinha da tia Heda. a gente esctudou junto a vida inteira, até o final do colegial. o zé galinha veio um pouco depois, na quarta série, em 1993. a gente já estudava no (EEPG 🙂 Dr. Raul.

eu tenho uma foto do Dr. Raul:

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eu tinha outros amigos e amigas. teve o tiago capelane, q a gente chamava de tico (ah, eu amava o tico :˜), o cudi (o pai dele q deu o apelido do zé galinha), tinha o caique e o paulo henrique (q eu não preciso contar pq é meu primo e a gente nasceu basicamente junto), tinha um monte deles. tinha meninas tb. a gente cresceu tudo junto. deu o primeiro beijo, tomou o primeiro porre, deu a primeira trepada, viajou pra fora de monte alto (q fosse pra vista alegre ou pra ribeirão preto, né? a gente sempre tava junto), tentou usar drogas (pq a gente era tão puro q nem ficar doidão a gente conseguia), fumou o primeiro cigarro, tomou o primeiro pé na bunda, discutiu a existência tudo pela primeira vez, tudo junto, tudo virgem de vida. não raro me pego lembrando de uma tarde q eu e o dani távamos no telefone discutindo as ˜˜relações humanas e a conversa ficou tão louca e profunda q ele só falou “péra q eu tô indo aí” e em 4 minutos ele tava em casa pra gente terminar aquela conversa. ele morava a um quarteirão de casa e eu sei q é ridículo a gente ter se falado tanto por telefone.

eles iam na minha casa todos os dias. e todos os dias significa todos. os. fucking. dias. de segunda a segunda. com o tempo, os agregados foram chegando. principalmente qdo a gente saiu do ensino fundamental e foi pro colégio. cada ano do colegial foi diferente. as relações foram elásticas o quanto puderam ser. tinha época q eu tava mais grudada no zé, tinha vez q ela mais no dani. o lely, o lely sempre foi um incógnita.

a verdade é q, com o tempo, nossos caminhos foram ficando cada vez mais distantes. em 2001 fomos passar o carnaval em ilha comprida. eu, os moleques, minha mãe. minha mãe era uma das melhores pessoas do mundo inteiro, acredita. entre 2001 e 2010, passei todos os meus carnavais com eles (exceto o do 2005 ou 2006, q fiquei em monte alto pra curtir uma canja – sentido literal – no monte alto clube). em 2010 foi bem estranho. não vou explanar sobre o caso, mas a verdade é q a gente já não fazia mais parte do mesmo mundo. lembro perfeitamente o sentimento, na quarta-feira de cinzas, qdo sentamos num restaurante japonês em são paulo pra comer e nos despedir. meu peito vibrava de “graças a deus acabou”. daquelas pessoas todas ali sentadas, muito poucas eram uma preza pra mim.

saí de monte alto em 2002. de 2002 até hoje, eu conto nos dedos de uma mão quem foi q me escreveu um email, carta, telegrama, bilhete ou mensagem pra perguntar como eu estava. a recíproca é verdadeira, pra quantos deles eu escrevi? nos ignoramos. eu, porque tenho uma arrogância infinita. já da parte deles eu não sei.

dos 3 caras q eu mais amei na minha adolescência, o dani, o lely e o zé, eu não sei nada. o q eu sei são causos. fotos no facebook. fofoca de amigo q a gente tromba na vida. pra ser bem honesta e bem humana, hoje em dia eu tenho até um pouco de mágoa. pq eles se mantiveram firmes entre eles. de alguma maneira. mas não me mantiveram. eu não me mantive. da última vez q fui pro brasil, em agosto passado, o zé galinha desmarcou uma cerveja comigo 3 vezes. eu, q fugi de todos os compromissos possíveis. uma das poucas pessoas q eu me dispus a ver (e q eu fui até a alemanha pra ver?) não quis sair comigo.

pq essas pessoas eram, antes de tudo, a minha memória. eu poderia estar perdida na minha própria existência (o q é bem comum) e elas me lembrariam de quem eu sou e de onde eu vim. e não ter mais essas pessoas na minha vida é como se eu tivesse deixado uma kátia pra trás e ela não pudesse ser recuperada.

e mesmo q a gente voltasse a se falar hoje – e se falasse todos os dias por um tempo – não vai ser a mesma coisa. pq relações são paradas q podem ser maculadas. e uma vez maculadas, eles não podem ser recuperadas. e eu sinto muito, muito mesmo por isso.

duas lições

bom, a verdade é q, qdo a idade vai chegando, a gente vira auto-ajuda. a gente vira nossa própria auto-ajuda com nossas cicatrizes e o q aprendeu com elas e muitas prudências e muitos auto-cafunés e consolos existenciais. não vou ficar agora, nessa altura, com vergonha de ter virado uma auto-ajuda pública (bom…todos os meus blogs sempre foram assim). mas tô falando, também, pra avisar os q não gostam de cafonice, q há aqui toda uma cafonice enrustida q eu deixo escapar às vezes. tb, com a chegada da idade, a gente sente um…orgulho de ser “velho”. tava no Brasil eu e 5 amigos numa mesa. a gente já tinha jantado e bebido alguns drinqs. uma amiga fala “cara, eu tô melhor do q nunca. se me perguntam se eu queria voltar a ser jovem, não volto nem fodendo”. os comentários ao redor da mesa suportam a amiga, q é descoladérrima com suas tattoos lindas e sua bici e seu cabelo de fazer inveja em qqr adolescente e suas referências culturais e com tudo q ela aprendeu na rua e na vida. e a minha opinião, só pra dar uma zoada, foi ˜cara, qdo a gente era adolescente e ouvia os adultos falando isso, a gente logo pensava “calaboca, ceis são zuado, a adolescência é a melhor fase da vida”. a lição (q não é uma das lições do título, tsc) é: cada fase tem sua dor e sua delícia. era maneiríssimo ser adolescente, é maneiríssimo ter virado adulta.

tá, sobre as lições. bati um mês de austrália. esse mês, assim como todos os meses de 2014, teve 6 meses de duração. tudo o q pode caber em seis meses, por algum motivo esdrúxulo, têm se condensado em 30 dias esse ano. 2014, então, já taí na casa dos 58 meses. e ainda faltam mais uns 13, 14 meses pra acabar. ajuda luciano

a primeira lição foi da sorveteria. qdo eu saí do brasil pra aprender a cozinhar, só havia um sentido: pro alto e avante. acreditava em escalonamento. ia começar num restaurante de importância x, mudar pra 2x, então pra 3x e, qdo me desse conta, eu era o alex atala. e eu nem citei o atala pq ele é ídolo, é só um exemplo. todo mundo mira e vai, então qdo eu me desse conta, eu seria uma chef fodona aí e ótimo, q daora a vida. mas, conforme os dias na cozinha foram passando (e as crises existenciais, de ego e de qualidade de vida foram se embolando a isso tudo), percebi q não havia escalonamento. a existência é um caminho reto. independente da posição q vc ocupar dentro de qqr empresa, independente inclusive da sua profissão, o q importa é como vc se comporta como ser humano. se vc trata todo mundo como seu igual e trata todo mundo igual, se vc é capaz de perceber sutilezas mágicas como botar o pé descalço na grama ou se sentir feliz com a felicidade alheia, se vc é capaz de se preocupar com alguma coisa além do seu próprio umbigo (e faz algo relacionado a isso) etc. infinita.

hoje em dia eu já nem queria mais cozinhar. a bem da verdade, queria acordar amanhã e já ter outra profissão. e cozinhar só pelo amor de cozinhar pros meus amigos e pra minha família. então eu fui trampar na sorveteira. a sorveteira, por sua vez, ainda estava atrelada àquele velho sonho de “pro alto e avante” e aprender o máximo q posso. foi um dia, amiguinhos. foi um dia pra compreender q eu não preciso me submeter a todo sofrimento pela qual eu já passei. era só uma questão do ego. continua sendo e, pra mim, sempre vai ser, uma questão do ego ter um emprego num lugar ˜˜COOL em detrimento de uma vida melhor. tem amigo meu aí enfiado em jornal 11h por dia q amarga passar pouco tempo com os filhos, tem amiga minha com salário de estagiária em revista descolex.

bom, eu saí dessa. devo dizer q eu não sou o alex atala. tenho plena e pura consciência disso. nem quero ser. tô de boa na minha existência ordinária. eu existo e isso faz um monte de gente feliz. independente de eu ser cozinheira, jornalista ou prostituta, tem gente q vai continuar me amando. e eu vou continuar amando essas pessoas pelo q elas são. e um dia a gente vai morrer e vai voltar a ser poeira de estrela. então pra q ter uma existência ditada pelo ego? não, obrigada.

a segunda lição veio hoje. fiquei só com o trampo do pub. os motivos já foram citado. então veio o chef zoado (tb já citado) e esse cara comeu meu cérebro por uns dias. xinguei e briguei com a existência. esse emprego era única coisa boa q sydney tinha me dado e de repente ele tava sendo maculado por um caga-regras (ah, os caga-regras…as cozinhas do mundo estão estuporadas de caga-regras). e então hoje ele pediu demissão. arrumou um emprego do outro lado do país e tá indo embora na sexta-feira. fiquei me sentindo muito trouxa por ter gastado tanta energia nisso. existe uma centena de frases sobre o q é o nosso caminho, mas eu vou citar uma só do Machadão: “não precisa correr tanto, o q é seu às suas mãos há de vir”. é sobre a linearidade da vida, sobre destino e livre arbítrio. o q tem de caminhar com vc, seja por uma milha, seja por um continente, vai caminhar. tem lições q vem numa noite e tem lições q vem num desenrolar. e não adianta brigar com ou contra isso. pq é só perda de tempo.

“a gente não se conhece, né? não, não se conhece, mas sabe q vc parece muito com um amigo meu, o Lino? claro q eu sei q vc conhece o Lino. o Lino Comprido, Lino q falava baixinho e calmo, careca e de braços bem longos, magro como um diabo esfaimado. o Lino, a gente não podia deixar ele falar muito senão a gente dormia. o Lino era amigo até da minha mãe. então, q bom q vc se sente confortável parecendo o Lino, pq o Lino, q parece o Drummond, com aquelas maçãs do rosto saltadas e secas chupadas, não me parece ser a melhor comparação. eu tenho uma foto do Lino lá na poltrona de casa. vc sabe q faz 20 anos q eu fotografo analógico? me dei conta outro dia. ganhei minha primeira câmera com 11 anos, era uma de plástico, até a lente era de plástico, pq a minha mãe não deixava eu usar a dela. qdo eu tinha quase 15 anos minha mãe deixou eu usar a mamiya dela, foi qdo eu percebi q a câmera dela era ruim de doer. tadinha, ela adorava fotografar tb. mas cortou tanto pé em tanta foto da minha infância, q eu queria poder voltar no tempo pra poder dar essa dica pra ela. hahaha sim, melhor cortar os pés do q as cabeças, claro. então, ontem eu levei três rolos de filme pra revelar, isso me dá uma ansiedade danada. desde o primeiro rolo de filme, passando pelo meu primeiro filme preto e branco até chegar no primeiro rolo de positivo e até qdo eu finalmente comprei a camerazinha mequetrefe q uso até hoje. faz 4 anos q uso a mesma câmera, q tem uma lente de vidro pelo menos, mas é 32 miliímetros e não dá conta de fazer foto com definição boa a mais de 2 metros de distância. pra isso tem outras lentes e tem câmera caras q sustentam essas lentes e tem até gente q carrega isso tudo e um tripé pra fazer foto bonita. eu não, eu só quero registar umas coisas, umas cores, uns lugares, pra depois mostrar por meus netos. eu sempre penso nos meus netos. nem filho eu tenho, mas imagino os meus netos e tb fico imaginando o tanto q eu vou entortar eles – pq é isso, né, vó serve pra entortar. vó brava não tá com nada. mas, sim, como eu estava dizendo, cada rolo de filme é uma ansiedade. pq, no geral, as fotos nem ficam bonitas. mas sempre tem uma ou duas fotos q me fazem ter vontade de gritar e de dar uma volta correndo no quarteirão de regozijo. essas fotos fazem valer todo dinheiro e tempo gasto nisso. mas hoje em dia eu quase não fotografo mais. assim, tiro umas fotos porcarias com o dispositivo móvel achando q vou guardar aquilo pra sempre, mas o gadget vai morrer, ser roubado ou se perder e essas fotos todas vão desaparecer. diferente dessa montanha de negativos q eu tenho. aliás, não acumulo mais nada desde q saí do Brasil. só negativos e memórias. até livro eu comprei pouco. qdo saí de Londres, deixei uma montanha pra trás. devia aprender a acumular dinheiro, dizem q é bom e prudente ter um montinho no banco, “no caso de uma emergência”. isso me lembra meu pai, qdo eu mudei pra São Paulo, no começo dos anos 2000, falando “ande sempre com uns 30, 40 reais na carteira. é o dinheiro do ladrão”. bom, esses 30 reais duraram aí, vamos ver, umas duas semanas na carteira? depois eu gastei e nunca mais repus. e o ladrão tb nunca veio hahaha, q boa a vida é comigo, não posso reclamar. quer dizer, ando muito reclamona, reclamo do vento, do ônibus, do preços das coisas e tb do sol e da chuva, mas cada vez q vejo uma coisa q eu nunca quis e nunca vou querer ser, fico feliz e conformada com a minha condição. pq né, eu tenho uma casa, um emprego, um punhado de dólares pra comprar um café se eu quiser, até dois, e fico feliz até de ter o peito pequeno e ele não balançar daquela maneira horrenda qdo eu corro. pq durante um tempo, qdo eu era jovem, né, eu ficava reparando e me chateando q eu não tinha isso, não tinha aquilo, mas hoje em dia eu fico mais botando um reparo nas coisas q eu tenho e como elas me satisfazem. tá, olha, agora eu preciso ir. legal te conhecer. se ver o Lino, fala q eu mandei um abraço”